“No coração da minha biblioteca está a biblioteca do meu pai.
Quando eu tinha 17 ou 18 anos e comecei a dedicar a maior parte do meu tempo à leitura, devorei os volumes que o meu pai guardava na nossa sala de estar, bem como os que descobria nas livrarias de Estambul. Nesses tempos, se eu lesse um livro da biblioteca do meu pai e gostasse dele, levava-o para o meu quarto e colocava-o no meio dos meus livros. O meu pai, que ficava satisfeito por ver que o seu filho lia, ficava também feliz ao ver alguns dos seus livros a emigrarem para a minha biblioteca, e sempre que via um dos seus velhos livros na minha estante, brincava comigo, dizendo-me:”Ah, vejo que este volume já foi promovido a uma patente superior!”
Em 1970, quando tinha 18 anos, eu – como todas as crianças turcas que se interessavam por livros – comecei a escrever poesia. (…) Foi então que li as colecções de poesia que o meu pai (que quando era novo quisera ser poeta) mantinha nas suas estantes.
Adorei os desbotados e esguios livros de poetas que eram considerados pelas Letras turcas (…) O meu pai por vezes abria uma primeira edição de um destes poetas e entretinha-nos com um ou dois dos seus singulares e caprichosos poemas, lendo-os em voz alta e adoptando um ar que nos fazia perceber que a literatura era um dos mais maravilhosos tesouros da vida.”
Adorei os desbotados e esguios livros de poetas que eram considerados pelas Letras turcas (…) O meu pai por vezes abria uma primeira edição de um destes poetas e entretinha-nos com um ou dois dos seus singulares e caprichosos poemas, lendo-os em voz alta e adoptando um ar que nos fazia perceber que a literatura era um dos mais maravilhosos tesouros da vida.”
Orhan Pamuk,
Prémio Nobel da Literatura 2007
De “A minha Biblioteca Turca” in “Público”, suplemento P2, de 10 de Janeiro de 2009.
De “A minha Biblioteca Turca” in “Público”, suplemento P2, de 10 de Janeiro de 2009.
(sugerido por Luísa M. Saraiva, coordenadora da Biblioteca)
(Texto exclusivo PÚBLICO/New York Review of Books)
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