quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Não me conheces, não te conheço.

Por Nuno Rocha Morais



Não me conheces, não te conheço.
Acontece que nos cruzamos todos os dias
e partilhamos durante cinco minutos
o mesmo segmento do caminho.
Não quer dizer nada, eu sei.
Mas começo a conhecer-te a roupa
e os sinais da tua beleza amarrotada
pela falta de sono, cujas cinzas frias
permanecem no teu rosto;
Ou talvez seja outra coisa, outro agente
que não a falta de sono
nessa tua vida, de que apenas vejo
cinco minutos por dia, cinco vezes por semana.
Claro, nada a dizer, a asa de nenhum pretexto,
a não ser, certa manhã,
chuvosa sem razão nenhuma,
uma opressão surda em mim
enquanto julgo que já não vens –
Mas, de súbito, passas a correr
e de um salto entras no autocarro,
perfeita imagem do amor.

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